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Frei Hermano da Câmara

(N. 12 julho, 1934)

Hermano Vasco Villar Cabral da Câmara nasceu a 12 de Julho de 1934. Para além da ascendência nobre – é tetraneto do rei D. João VI -, tem também ligações familiares a várias figuras da música portuguesa, sendo primo de Maria Teresa de Noronha, Vicente da Câmara, Nuno da Câmara Pereira e Luísa e Salvador Sobral, por exemplo.

 

Começou a cantar muito cedo, mas só iniciou uma carreira pública na segunda metade da década de 1950, tornando-se numa das vozes mais reconhecidas em Portugal. Autodidacta desde sempre – o seu pai não queria que estudasse música - o seu primeiro disco veio, então, em 1959, por intermédio da Valentim de Carvalho e logo aí pôde mostrar a sua veia de compositor, assinando a primeira composição “Minha Mãe, Nasci Fadista”. O EP “Sunset and Sentiment” contou com a presença de Fontes Rocha, Joaquim Vale e Joel Pina e reuniu poemas de Linhares Barbosa, Henrique Rego e do Conde de Sobral, tendo sido reeditado várias vezes, tal foi o seu sucesso.

Em 1961, iniciou o seu percurso de monge beneditino, marcado pelo “Fado da Despedida” que gravou a assinalar tal facto e começou uma década profícua em termos discográficos. Sob a chancela da RCA Victor, D. Hermano da Câmara gravou cinco discos, optando por poesia de António Botto, Augusto Gil e João de Deus, tornando-se, também, o primeiro cantor a gravar Fernando Pessoa, em 1965. O poema “Mar Português” transformou-se num fado chamado “Mar Salgado”, com Frei Hermano assinando a melodia.

Após participar noutros registos, em 1970, Frei Hermano da Câmara volta aos discos em nome próprio. “A Santa Face de Jesus”, “Cantilena da Lua Nova” e “Túnica Negra” foram os três discos de 45 rotações que foram agrupados num álbum que o introduziu às gerações mais novas. Esse contacto com Frei Hermano da Câmara originou os álbuns “Encosto a Fronte à Vidraça” e “Bruma Azul do Desejado”, este último acompanhado pelos membros do Quarteto 1111, acrescentando ao disco uma sonoridade nova e vanguardista.

Em Julho de 1973 foi finalmente ordenado monge beneditino, firmando assim a sua devoção.

A aposta da Valentim de Carvalho em Frei Hermano da Câmara levou-o a editar vários trabalhos ao longo dos anos, sempre com muito sucesso. Em 1974, lançou “Sede de Infinito”, onde os poemas de vários autores afamados eram acompanhados com melodias originais do fadista.

1976 foi o ano em que lançou um dos seus sucessos mais emblemáticos e que, ainda hoje, se mantém associado ao seu nome: “O Rapaz da Camisola Verde”, com letra de Pedro Homem de Mello e música do próprio Frei Hermano da Câmara. Dois anos depois, edita “O Nazareno”, um projecto que retratava a vida de Jesus Cristo e que contou com vários convidados neste duplo-álbum, nomeadamente Amália Rodrigues.

O álbum tornou-se um espectáculo musical e, em 1986, subiu ao palco do Coliseu de Lisboa uma encenação de “O Nazareno” que contava, entre outros, com Teresa Siqueira, Teresa Tarouca, Alexandra, Jorge Fernando.

Vários outros discos se seguiram, tendo Frei Hermano ainda em 2014 participado numa nova encenação de Carlos Avillez para “O Nazareno”, mostrando que este trabalho ficou bem presente na memória de muitos portugueses.

A carreira musical de Frei Hermano da Câmara continuou, a par com a vida monástica, tendo actuado em várias salas emblemáticas do país, como o Teatro Tivoli (1969), o Teatro de São Luís (1977), o Teatro Maria Matos (1980), o Coliseu dos Recreios (1986) o Coliseu do Porto (1988), e a Expo 98.

Em 1990, viu os estatutos dos Apóstolos de Santa Maria serem aprovados pelo Arcebispo de Braga. Esta congregação, fundada pelo próprio Hermano da Câmara, tem como mote o apostolado através da música, ou seja, a música como veículo da fé. Todo o dinheiro ganho com o Fado, através da venda de discos, espectáculos, direitos de autor, foi canalizado para suportar a congregação.

Frei Hermano da Câmara continuou a gravar, lançando, em 1994, o disco “Missa Portuguesa”; em 1997, “Um Astro de Luz” e, em 2003, “Vivo d’arte, vivo d’amor”.

Apesar de afastado dos palcos há largos anos, em 2012 e 2013 fez um concerto comemorativo de 50 anos de fados, no Teatro Tivoli BBVA, onde revisitou êxitos como “O Fado da Despedida”, “Túnica Negra”, “O Rapaz da Camisola Verde” e “Jesus”, acompanhado por Pedro de Castro e José Luís Nobre Costa nas guitarras portuguesas, Francisco Gonçalves na viola e Joel Pina na viola baixo.

 

Fonte:

https://www.rtp.pt/rtpmemoria/gramofone/frei-hermano-da-camara-por-joao-carlos-callixto_1167

https://www.meloteca.com/portfolio-item/hermano-da-camara/

https://www.cmjornal.pt/domingo/detalhe/frei-hermano-da-camara-sinto-me-um-artista-com-talento