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Maria João Quadros

(N. 19 fevereiro, 1948 - M. 8 dezembro, 2023)

Maria João Quadros foi, durante muitos anos, figura de proa no meio fadista. Nos retiros e nas casas de fado, Maria João foi construindo, noite após noite, um prestígio que a colocou durante muitos anos como uma das mais importantes figuras do Fado.

Os seus primeiros discos datam da década de 60/70. A par de vários singles, gravou o LP “Não Quero Rosas Vermelhas” onde gravou, pela primeira vez na carreira, versos da sua tia-avó Fernanda de Castro.

No início do século XXI, Maria João volta aos discos, gravando um cd, onde foi acompanhada por Carlos Gonçalves e Joel Pina. Desse CD saíram alguns dos seus maiores sucessos como “Meu Amor Abre a Janela”, “Zé Pescador”, “Longe Demais”ou “Varinas”.

O prestígio que este disco lhe trouxe permitiu que compositores brasileiros de primeira linha se congregassem à sua volta para fazerem um disco de "fados" que juntasse o melhor da canção portuguesa com o melhor da música popular brasileira. Seduzidos pela emissão da sua voz que era absolutamente única e rara, mesmo no meio do fado, e pela sua alma onde o Fado é soberano, Ivan Lins, Francis Hime, Zeca Baleiro, Chico César, Olivia Byington, entre muitos outros, deitaram mãos à obra a esta tarefa de fazer fados para uma fadista castiça e verdadeira. Nasceu assim o disco “Fado Mulato” onde Maria João faz duetos com Tito Paris, Francis Hime ou Olivia Byington.

Este encontro tão feliz foi levado às grandes salas do país, nomeadamente ao Coliseu dos Recreios e à Casa da Música, onde Maria João dividiu vocais com Ney Matogrosso. No espectáculo do Coliseu, Maria João teve a alegria de contar com Ada de Castro, António Pinto Basto, Celeste Rodrigues, João Ferreira Rosa, Lenita Gentil, Peu Madureira, Teresa Siqueira e Vicente da Câmara a cantarem uma desgarrada com ela.

Aliás, foram também muitas as participações que Maria João gravou fora dos seus discos, sendo de realçar o dueto com António Pinto Basto em “Fado na Corda Bamba”, e o dueto com Marco Paulo em “Amiga”, grande sucesso de Roberto Carlos.

No entanto, as casas de Fado foram os seus lugares de eleição onde a sua voz foi ouvida até poucas semanas antes do seu falecimento. Uma horda de gente seguia Maria João por onde ela andasse, fosse nas casas que a própria abriu : “Desassossego” em 1978, “Mary John pictures bar/casinha de fados” em 1983, “Os pindéricos” em 1986 e “Casa da Mariquinhas” em 2006, fosse nas casas onde era contratada e foram tantas que é impossível enumerar todas – entre elas estão “Embuçado”, “Velho Páteo de Santana”, “Mesa de Frades”, “Pátio das Cantigas” e “Tasca do Chico”, o último lugar onde cantou.

Maria João Quadros também se entregou com grande sucesso ao teatro em “Casa de Fado” no Teatro Villarett com autoria e encenação de Tiago Torres da Silva. Ao lado do autor foi também várias vezes madrinha da Marcha da Bica.

Por tudo isto, foi homenageada pela Sociedade Portuguesa de Autores em 2011 na Aula Magna, ao lado de outros intérpretes e autores ligados ao Fado.

Maria João Quadros cantou um pouco por todo o mundo, sendo de realçar a sua relação com Moçambique, onde nasceu e onde cantou pela primeira vez. Por isso, no seu “Fado mulato” ela diz: “mas mesmo que aqui não fique/ hei-de levar Moçambique/ pela minha vida fora”.