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Raúl Ferrão

(N. 25 outubro, 1889 - M. 30 abril, 1953)

Passou a infância em Lisboa e Aveiro, ingressando no Colégio Militar (1901), onde aprendeu a tocar bandolim na tuna dessa instituição. Seguiu, tal como o pai, a carreira militar, tendo concluído a Escola do Exército (1914), onde foi professor auxiliar, participou ainda na I Guerra Mundial (Angola, até 1917). Passou à reserva em finais dos anos 40 e, seguidamente, foi professor de Órgãos de Máquinas e Metalo-Mecânica no Instituto dos Pupilos do Exército. Paralelamente à sua carreira militar, tirou o curso de Engenharia Química Industrial no Instituto Superior Técnico e exerceu funções como comandante da Oficina de Espingardeiros na Fábrica de Braço de Prata e como representante das Forças Armadas em feiras industriais realizadas no estrangeiro.

O seu primeiro casamento terá sido importante para a sua carreira musical, dado que a sua mulher (Lídia Esperança da Silva Azinhais Ferrão), professora de piano, o aconselhava no processo de composição. Em 1923, iniciou carreira como compositor para teatro, escrevendo canções para programas de variedades apresentados no Salão Foz (A Cantarinha, e.o.) e noutros teatros (Pompom, 1926). Em parceria com o escritor Álvaro Leal e com Angel Goméz (que lhe ensinou orquestração), começou a escrever para operetas e para o teatro de revista (c. 120 revistas conhecidas). Poucos anos depois, era um dos compositores mais requisitados para escrever “números” para este género, actividade que manteve quase até à sua morte.

Em parceria com vários compositores e escritores, como Raul Portela e Frederico Valério, Fernando de Carvalho, José Galhardo e Alberto Barbosa, compôs música para algumas das revistas de maior sucesso comercial apresentadas em Lisboa (A rambóia, 1928; O mexilhão, 1931; Pernas ao léu, 1934; Arre burro!, 1936; Lá vai Lisboa 1939; A marcha de Lisboa, 1941; Alto lá com o charuto, 1945, e.o.).

A partir de 1935, em parceria com o letrista Norberto Araújo, afirmou-se como um dos principais compositores de marchas populares (nas quais ensaiava e dirigia os cavalinhos), tendo escrito originais e, por vezes, arranjos de teatro de revista para esse evento.

A partir dos anos 30, com o advento do cinema sonoro, começou a compor para filmes (Canção de Lisboa, 1933; Maria Papoila, 1937; Rosa Engeitada, 1937; Aldeia da Roupa Branca, 1938; Varanda dos Rouxinóis, 1939; Capas Negras, 1947, para a qual escreveu uma das canções mais divulgadas dentro e fora do país: “Coimbra”, interpretada por Amália Rodrigues; Sol e Toiros, 1949).

Foi co-fundador e vice-presidente (1925-1952) da Sociedade dos Escritores e Compositores Teatrais (posteriormente Sociedade Portuguesa de Autores).

Alguns dos intérpretes que divulgaram a sua música foram Alberto Ribeiro, Beatriz Costa e Hermínia Silva. Foi um dos compositores que mais contribuiu para a configuração e divulgação do “fado-canção”. Preferiu formas com refrão, desenvolvendo melodias fluidas e de fácil memorização com suporte harmónico convencional (tónica-subdominante-dominante), denotando uma clara influência da música militar.

Recebeu várias distinções como militar, mas nenhuma como compositor.

 

Obra musical:

Marcha popular: Mouraria cantante [1940]; Lisboa, 1940 (marcha da Mouraria); O grilo [1945]; Lisboa, 1945 (marcha do Alto do Pina); A marcha do centenário [1947]; Lisboa, 1947; É Graça! [1947]; Lisboa, 1947 (marcha da Graça); Vem aqui a Madragoa [1947]; Lisboa, 1947 (marcha da Madragoa); Nova Marcha do Bairro Alto [1950]; Lisboa, 1950; Marcha de Lisboa de 1952 [1952]; Lisboa, 1952; Noite de Santo António (s.d.); Lisboa, s.d.

 

Cinema:

A Canção de Lisboa (1933) (Cotinelli Telmo) [canções para o filme]; Maria Papoila (1937) (Leitão de Barros) [canções para o filme]; Aldeia da Roupa Branca (1938) (Chianca de Garcia) [canções para o filme]; A Rosa do Adro (1938) [canções para o filme]; Varanda dos Rouxinóis (1939) (Leitão de Barros) [canções para o filme]; Capas Negras (1947) (Armando de Miranda) [canções para o filme]; Sol e Toiros (1949) (José Buchs) [canções para o filme]

 

Opereta:

Arco do Cego [1927]; Lisboa, 1927; A Flor da Murta (1930); Coração de Alfama (1935); Senhora da Atalaia (1937); Colete Encarnado (1940); A Morgadinha de Valflor (1940); Lisboa, s.d.; Nazaré, (1940); Ribatejo (1940); A Invasão (1945)

 

Revista:

PomPom [1926]; Lisboa, Salão Foz, 1926 [com Angel Gomez]; O Sete-e-meio [1927]; Lisboa, TAP, 1927 [com Isidro Aranha e Carlos Calderón]; O Mexilhão [1931]; Lisboa, TV, 1931 [com R. Portela, A. Melo, R. Torralba e F. de Freitas]; Pernas ao léu [1933]; Lisboa, TV e TT, 1933 [com Afonso Correia Leite, Jaime Mendes e R. Portela]; Zé dos Pacatos [1934]; Lisboa, TAP, 1934 [com R. Portela e Afonso Correia Leite]; Arre, burro! [1936]; Lisboa, TV, 1936 [com R. Portela e Fernando de Carvalho]; O cartaz de Lisboa [1937]; Lisboa, TMV, 1937 [com R. Portela, Fernando de Carvalho e Fernando Guimarães]; Olaré quem brinca [1937]; Lisboa, TV, 1937 [com R. Portela e Fernando de Carvalho]; A marcha de Lisboa [1941]; Lisboa, TAP, 1941 [com Carlos Dias]; Alto lá com o charuto! [1945]; Lisboa, TV, 1945 [com Fernando de Carvalho]

 

Fonte:

CASTELO-BRANCO, Salwa (dir), (2010) “Enciclopédia da Música em Portugal no século XX”, 1ª ed., Temas e Debates – Círculo de Leitores, (vol.C-L), pp. 476-477