Trio de PEDRO CALDEIRA CABRAL - O Fado da Cítara Portuguesa

O FADO DA CÍTARA PORTUGUESA

Evocação-homenagem a Carlos Paredes

Em homenagem a Carlos Paredes na celebração do seu centenário, o Trio de Pedro Caldeira Cabral interpretará neste concerto as peças de raiz erudita e popular que nos legaram as fontes escritas do século XIX, seguindo-se as dos antepassados directos de Carlos Paredes, e terminando com originais da autoria de Pedro Caldeira Cabral. 

Pedro Caldeira Cabral: Cítara Portuguesa

Joaquim António Silva: Guitarra Clássica

Duncan Fox: Contrabaixo

A Cítara Portuguesa tem vindo a despertar um interesse crescente dos públicos atentos à fruição de géneros musicais diferentes do uso mais tradicional deste instrumento e a sua apresentação no contexto de festivais de música clássica e popular é cada vez mais frequente. Para tal temos vindo a contribuir com a criação de um novo repertório solístico alargado, constituído por composições originais e transcrições de peças de música do passado. Quis o Destino (fatum) que, nas minhas deambulações por bibliotecas, alfarrabistas e feiras de velharias por todo o país, tivesse recolhido um razoável número de manuscritos musicais contendo peças antigas do repertório da cítara portuguesa, muitas de autor desconhecido e datáveis desde os últimos decénios do século XVIII até ao início do século XX.

A desqualificação social da Cítara e a sua ligação aos fadistas é um facto documentado com o auto de prisão, em 1820 (ano do nascimento da Severa), de um tal Manuel Raimundo, homem pardo, por  estar tocando em huma Cytara numa loja de louça que também vende aguardente  na Calçada de Santana, em Lisboa. Por contraste, no Brasil em 1824, Cunha Matos, descrevendo os costumes musicais da burguesia, diz-nos: “Na província de Goiaz, as senhoras cantam soffrivelmente e tocam o psaltério, a cithara, a guitarra e as viollas” ilustrando claramente o uso dos dois instrumentos em contexto social idêntico, tal como Silva Leite o fizera anos antes no seu “Estudo”, de 1795.

A música que encontramos no Brasil e em Portugal na transição do século XVIII para o XIX é uma mistura de géneros: As Modinhas, os Lunduns, as danças da Fofa, do Fandango, do Sarambeque, da Valsa, da Mazurca, do Maxixe ou da Chula.

Com a ida do rei D.João VI e da sua corte para o Rio de Janeiro, aumentou o intercâmbio musical urbano com o Brasil e registamos aqui também a actualidade da memória do período de transição do século XIX para o século XX no Portugal multicultural de hoje.

Na escolha deste programa, proponho-me assinalar um claro interesse na utilização plena dos  recursos expressivos característicos da Cítara Portuguesa, com leituras interpretativas que valorizem as diversas opções estéticas de acordo com uma perspectiva performativa historicamente informada.

                                                                    Pedro Caldeira Cabral

Espelho de Sons é um ciclo de concertos-tributo a Carlos Paredes no Museu do Fado. 

Programação completa, aqui.