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David Mourão-Ferreira

(N. 24 fevereiro, 1927 - M. 16 junho, 1996)

Em 24 de Fevereiro de 1927, nasce em Lisboa, David de Jesus Mourão-Ferreira. Filho primogénito de David José da Silva Ferreira e de Teresa de Jesus Mourão-Ferreira, viu em 1929 nascer o seu irmão, Jaime Alberto. Da cumplicidade e amizade que unem os dois irmãos, nascem objectos de brincadeira reveladores de um gosto literário particularmente vincado. Ambos “editam” pequenos jornais ilustrados por Jaime Alberto.

Prosseguindo os estudos no Colégio Moderno e sob a influência do director do Colégio, Dr. João Soares e do docente Dr. Teófilo de Oliveira Júnior, David Mourão-Ferreira estreia-se com a publicação do artigo “Peralta e Sécias”, em leitura no jornal de estudantes “Gente Moça”. (cfr. José Martins Garcia in “David Mourão-Ferreira, A Obra e o Homem”, 1980, p. 21)

Retomando Martins Garcia, é também na década de 40 que David Mourão-Ferreira se cruza com a moderna literatura portuguesa, casos de Fernando Pessoa e José Régio, (cf. pp. 21). Em 1945 assinala-se a publicação, na revista “Seara Nova”, dos seus primeiros poemas. Inscrito no curso de Filologia Românica, da Faculdade de Letras de Lisboa, David Mourão-Ferreira prossegue o seu trabalho de escrita publicando, em 1946, novos textos de poesia.

Dividido, mas fortemente empenhado, entre a escrita - poesia, recensões e ensaios, a actividade editorial e teatral, e os contactos com diversas personalidades literárias, David Mourão-Ferreira edita em 1950 “A Secreta Viagem”, o seu primeiro volume de poesia.

Na década de 50, e após a conclusão da licenciatura em Filologia Românica com a apresentação da tese “Três Coordenadas na Poesia de Sá de Miranda”, o escritor casa-se com Maria Eulália Barbosa de Carvalho e, por intermédio do seu grande amigo e cunhado Rui Valentim de Carvalho, conhece Amália Rodrigues. Este encontro viria a alterar de modo profundo a sua relação com o fado, facto esse também decisivo na sua escrita: “Mas que surdo e raivoso burburinho, nas hostes literatas e policastas, quando comecei a escrever versos para Amália cantar!” (cfr. David Mourão-Ferreira, “Um livro de e sobre Amália”, in “Ócios do Ofício”, 1989, p. 35). Neste contexto, surgem as primeiras letras de fados para a interpretação de Amália; “Primavera” (1953), “Libertação” (1955) e as versões portuguesas “Sempre e Sempre Amor” (1953), “Neblina” (1954) e “Quando a Noite Vem” (1954). (cfr. Joana Morais Varela, “David à Guitarra e à Viola” in “Primavera”, 2007, p. 71)

Será determinante o contributo do compositor Alain Oulman para que a poesia erudita e contemporânea figure no repertório de Amália Rodrigues. A poesia de David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, Luís de Macedo, José Régio, Alexandre O´Neill, Manuel Alegre e até de Luís de Camões, musicada por Alain Oulman, figurará em álbuns da fadista como “Busto” (1962), “Fado Português” (1965), e “Com que Voz” (1970), alterando em absoluto o rumo traçado pela tradição fadista.

Dando continuidade à colaboração nas mais diversas edições literárias e jornalísticas, David Mourão-Ferreira inscreve-se em definitivo no panorama cultural português. Assume-se como poeta, participando de forma activa na vida literária portuguesa, com intervenções críticas mais ou menos polémicas, bem como no estudo e divulgação de várias gerações de poetas, através da regência das cadeiras de Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa.

É também neste período, a meados da década de 60, que David Mourão-Ferreira realiza e apresenta, na Emissora Nacional, o programa “Música e Poesia”. Todavia, e face à sua oposição quanto ao encerramento da Sociedade Portuguesa de Escritores, o poeta é afastado da Emissora Nacional e da Radiotelevisão, onde também nesse mesmo ano apresentara o programa “Hospital das Letras”.

Em 1966 acontece o segundo casamento com Maria do Pilar de Jesus Barata.

A subscrição do texto de apresentação da “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, organizada por Natália Correia e do prefácio da tradução do livro “A Filosofia da Alcova”, do Marquês de Sade, tornam David Mourão-Ferreira alvo de uma campanha de difamação e de um processo judicial. Não obstante, surgem as primeiras letras destinadas a outros fadistas e cantores, tais como Simone de Oliveira, Francisco Pessoa, Mercês da Cunha Rego, Dário de Barros, Luís Cília, entre outros. (cfr. Joana Morais Varela, “David Mourão-Ferreira, Poemas Musicados” in “Primavera”, 2007, pp. 111-118)

Em 1967, no volume “Arte de Amar”, David Mourão-Ferreira reúne os seus primeiros cinco livros de poesia e organiza o volume “Itinerário Paralelo”, com textos inéditos de Sebastião da Gama. Retoma o jornalismo com a rubrica “Poesia para Todos”, no “Diário de Lisboa”, ao que se segue, meses mais tarde, o regressa à televisão através do programa “Imagens da Poesia Europeia”.

Nos primórdios da década de 70, David Mourão-Ferreira regressa à Faculdade de Letras de Lisboa para leccionar Teoria da Literatura e Literatura Francesa, actividade que complementa com a escrita e as inúmeras viagens que realiza no âmbito de apresentações e comunicações em colóquios, conferências e congressos, dando destaque à sua participação, em 1973, na reunião do Comité Exécutif da Association Internationale des Critiques Littéraires, realizada em Moscovo. Em 1974, David Mourão-Ferreira torna-se sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.

Passa pela imprensa escrita, casos de “A Capital” e “O Dia”, e em 1976, David Mourão-Ferreira rende-se em definitivo à política, assumindo o cargo de Secretário de Estado da Cultura no VI Governo Provisório (1976) e com Mário Soares, no que será o I e IV Governo Constitucional (1976,1977,1979). (cfr. José Martins Garcia in “David Mourão-Ferreira, A Obra e o Homem”, 1980, p. 38 a 39). Na esfera da Secretaria de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira teve um louvável esforço na divulgação da cultura e língua portuguesa, para além da celebração de Acordos culturais com países como o Brasil. À sua figura se deve também a criação da Companhia Nacional de Bailado.

Nunca declinando a escrita e a publicação, David Mourão-Ferreira regressará por uma última vez à televisão em “O Dom de Contar”.

Em 1981, David Mourão-Ferreira é convidado para director do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian onde também dirige a Revista “Colóquio/Letras”.

Com uma missão cultural cada vez mais enraizada, David Mourão-Ferreira é eleito vice-presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires (1984-1992) e presidente da Associação Portuguesa de Escritores onde se mantêm até 1986.

Aos 59 anos de idade publica o primeiro romance, “Um Amor Feliz”, vencedor de inúmeros prémios.

Em 1990 David Mourão-Ferreira é distinguido como Professor Catedrático e no ano seguinte assume a presidência do Pen Club Português.

Em 1995, David Mourão-Ferreira, grava em voz própria, o CD “Um Monumento de Palavras”, do qual consta uma selecção de poemas de sua autoria. Este registo será publicado no ano seguinte, altura em que o Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian lhe presta uma homenagem através da publicação de um número especial intitulado “David Mourão-Ferreira”.

Excepcional na sua missão cultural, David Mourão-Ferreira, virá a falecer em 16 de Junho de 1996 na cidade de Lisboa. Nos anos que se seguiram elevam-se as homenagens e condecorações póstumas a uma das mais centrais e expressivas figuras da sociedade portuguesa.

Referência fundamental no repertório de Amália Rodrigues, David Mourão-Ferreira foi também um verdadeiro apreciador do género. Em Maio de 2007 inaugura-se no Museu do Fado, uma exposição temporária intitulada “Primavera, David Mourão Ferreira e o Fado”.

David Mourão-Ferreira foi por diversas vezes laureado com distinções de relevo literário e cultural.

Prémios e condecorações:

1954 Prémio de poesia Delfim Guimarães ao seu livro “Tempestade de Verão”.

1960 Academia das Ciências de Lisboa atribui a David Mourão-Ferreira o Prémio Ricardo Malheiros pela publicação “Gaivotas em Terra”.

1965 Prémio de Teatro da Casa da Imprensa, pela peça de teatro “O Irmão”.

1972 Prémio Nacional de Poesia da Secretaria de Estado da Informação e Turismo atribuído ao livro de poesia “Cancioneiro de Natal”.

1973 Grau de Chevalier de L´Ordre des Arts et des Lettres (França).

1976 Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco (Brasil).

1980 Prémio da Crítica da Association Internationale des Critiques Littéraire pelo livro “As Quatro Estações” (2ª edição).

1986 Prémio de Narrativa do Pen Clube Português; Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus e o Prémio de Ficção Município de Lisboa, pelo romance “Um Amor Feliz”.

1988 Grande Prémio Inasset de Poesia atribuído a “No Veio de Cristal”.

Prémio Jacinto Prado Coelho atribuído a “Nos Passos de Pessoa”.

1987 Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores. No Brasil recebe a Medalha Oskar Nobiling atribuída pela Academia Brasileira de Letras.

1996 David Mourão-Ferreira é homenageado por todo o país.

Recebe a Grã-Cruz de Santiago de Espada.

Condecorado pela Câmara Municipal de Cascais com o título de Cidadão Honorário.

Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Oeiras.

 

Selecção de fontes de informação:

AAVV, (1996), “David Mourão-Ferreira”, Boletim do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

AAVV, (2007), “Primavera, David Mourão-Ferreira e o Fado”, catálogo de exposição, Lisboa, EGEAC EM / Museu do Fado.

Garcia, José Martins (1980), “David Mourão-Ferreira, A Obra e o Homem”, Col. “A Obra e o Homem”, Lisboa, Arcádia.

David Mourão-Ferreira, 1932

David Mourão-Ferreira, 1937

David Mourão-Ferreira, 1938

David Mourão-Ferreira, Paris, 1948

David Mourão-Ferreira, Portalegre, 1952

David Mourão-Ferreira, Portalegre, 1952

David Mourão-Ferreira, Lisboa, 1959

David Mourão-Ferreira, Lisboa, 1961

David Mourão-Ferreira, LIsboa, 1961

David Mourão-Ferreira, 1963

David Mourão-Ferreira, 1966

David Mourão-Ferreira, 1968

David Mourão-Ferreira, 1972

David Mourão-Ferreira, 1985 Fotografia de António Duarte

David Mourão-Ferreira, 1992 Fotografia de Tavares

  • Primavera Amália Rodrigues (David Mourão-Ferreira / Pedro Rodrigues)