Aldina Maria Miguel Duarte nasceu em
Lisboa, em 1967. Cresceu num bairro social em Chelas. Com 20 anos começou
a trabalhar num jornal, depois numa estação de rádio e, mais tarde, foi
monitora num curso de formação profissional do Centro de Paralisia Cerebral.
Paralelamente foi membro do coro do grupo Valdez e
as Piranhas Douradas. Com 24 anos conheceu o Fado através de Beatriz da
Conceição. Jorge Silva
Melo solicitou-lhe que entrevistasse a fadista para um
documentário que estava a realizar. Foi com este contacto que a visão de Aldina
sobre o Fado se transformou, como a própria revelou no seu site pessoal: ”Fiquei
apaixonada por tudo o que ouvi, pedi-lhe conselhos, falou-me de tudo o que é
mais importante no fado. Quis ser fadista. Passei dias a ouvir muitos discos de
fado, noites a ouvir muitos fadistas, meses a ler e a decorar poemas.”. O seu primeiro
espectáculo foi para os funcionários do Centro de Paralisia Cerebral.
Em 1992, Aldina Duarte faz uma aparição no filme Xavier,
realizado por Manuel Mozos, para o qual interpreta A Rua do Capelão, filmando
na rua da Mouraria, onde os moradores a aplaudiram de tal forma que teve de
repetir o Fado apenas para eles.
No ano seguinte canta na peça Judite, Nome de
Guerra, de Almada Negreiros, encenada por Germana Tânger, no Teatro S. Luís.
Foi a primeira vez que se apresentou em palco para cantar Fado. De seguida
participou na programação de Noites de Fado, das Festas de Lisboa, que
decorreu aos fins-de-semana na Casa do Registo da Mãe d'Água.
Filipe La Féria convidou-a a participar no programa
musical Grande Noite, transmitido pela RTP em 1992, mas após 3 programas
Aldina Duarte não se conseguia concentrar na interpretação do Fado, entre a
azáfama de luzes e pessoas que um programa deste tipo implica.
Em estreita colaboração com o encenador João Mota e Paulo Anes, Aldina
Duarte criou as Noites de Fado no Teatro da Comuna, onde foram convidados
fadistas e actores que faziam leituras de poetas portugueses, casos de Beatriz
da Conceição, Manuel de Almeida, Maria da Nazaré, Carlos Paulo e Manuela de
Freitas. Nesse ciclo de eventos a fadista trabalhou com Camané, com quem
posteriormente casou e viveu 10 anos, ajudando-o na escolha de repertórios para
os seus discos.
Aldina Duarte, enquanto colaboradora da
EMI-Valentim de Carvalho trabalhou na organização digital do espólio e na
elaboração de colectâneas de Raul Ferrão e Alfredo Marceneiro.
Em 1995 e 1996, por convite do guitarrista Mário Pacheco, integrou o
elenco permanente da casa Clube de Fado. E, desde 1997, passou a actuar na casa
de Fados de Maria da Fé,
o Sr. Vinho.
A sua primeira deslocação a Itália surge por convite
do Teatro Piccolo de Milão, para cantar numa peça sobre a vida de Fernando
Pessoa, Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa, escrita por
António Tabucchi e dirigida por Giancarlo Dettori (actor principal), Lamberto
Puggelli (encenador) e Giorgio Strehler (o Mestre).
Em 2004, Aldina Duarte editou o seu primeiro
trabalho discográfico pela EMI. Apenas o Amor foi aplaudido pela crítica e
destacava-se por integrar 8 poemas inéditos da fadista nos 12 temas
interpretados.
Após o lançamento deste álbum, Aldina inicia uma
série de espectáculos de divulgação do seu disco em Portugal e no estrangeiro,
dos quais destacamos, no ano de 2004, as actuações no Centro Cultural de
Arzila, em Marrocos, em Agosto, e novamente no Teatro Piccolo de Milão.
No ano seguinte, 2005, prossegue a realização de
concertos em Viena de Aústria (Konzerthause), Espanha (Zamora), Itália
(Pontedera e Roma), Holanda (Ijmuden, Gronigen, Haarlem e Amesterdão), França
(Festival d’Ile de France, em Paris, e Bouguenais) e, em território nacional, no
Castelo de Sines, na Casa da Cultura de Beja, na Culturgest e nas Festas da
Cidade de Loures.
O mercado discográfico acolhe, em 2006, novo disco
de Aldina. De título Crua, este álbum reúne 12 poemas de João Monge
interpretados sobre músicas do Fado Tradicional. Nas palavras de João Monge: “A
textura da voz, a intenção da leitura, a respiração que toma as rédeas do peito
e que respira quando nós nos sustemos, a força telúrica capaz de devolver à
terra tudo o que à terra pertence, o drama e a dádiva, principalmente a dádiva
das coisas simples e eternas da vida, é que me levam Mar adentro. Se tudo isto
é fado, tudo isto é Aldina!”.
Nesse mesmo ano a fadista actua em França e faz uma
digressão em território nacional, com espectáculos no Teatro da Luz, no Maxime,
no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na 5ª Gala do Fado do Casino Estoril,
no Pavilhão Rosa Mota
do Porto, na Festa do Fado do Castelo de S. Jorge, no Grande Auditório da Casa
da Música do Porto e no Grande Auditório da Culturgest, e, ainda, no Festival
Sons em Trânsito no Teatro Aveirense e no Teatro Viriato em Viseu.
A 1 de Novembro de 2007, integrou o elenco do
espectáculo Divas do Fado, apresentado no Queen Elizabeth Hall, em Londres,
no âmbito da 7ª edição do Festival Atlantic Waves, organizado pela Fundação
Gulbenkian. Ao palco, para além de Aldina, subiram as fadistas Beatriz da
Conceição, Maria da Fé,
Mafalda Arnauth, Joana Amendoeira e Raquel Tavares. No decorrer desse ano
apresentou-se, também, em França (Bobigny), no Teatro Municipal de Faro, no
Auditório Municipal de Sines, na 6ª Gala do Fado no Casino Estoril, no Teatro
do Campo Alegre no Porto, no Centro Cultural Vila-Flor, em Guimarães, e na
Festa do Avante.
O seu mais recente disco, Mulheres ao Espelho,
foi editado em 2008. Depois de dispensada, juntamente com vários artistas nacionais,
da EMI, Aldina Duarte fundou a sua própria editora, a Rodalámusic, para lançar
este álbum. Em entrevista à “Notícias Magazine” Aldina relata: “Tive de pedir
um empréstimo para abrir uma editora para poder editar o meu disco, sou eu que
faço a facturação da empresa, sou eu que negoceio e monto os meus próprios
espectáculos, as tournées, a promoção”.
Dos seus espectáculos de 2008 destacamos as
actuações na Casa Fernando Pessoa, na Grande Gala do Fado no Casino Estoril, no
Teatro da Batalha no Porto, na Fábrica Braço de Prata, no CAE de Portalegre e
no Poetry Festival em Berlim.
Todas as gravações de Aldina Duarte são
acompanhadas por José Manuel Neto, na guitarra portuguesa, e Carlos Manuel
Proença, na viola. A fadista procurou manter os rituais que considera “distintos
e belos no fado: o xaile preto, o vestido preto, discreto e elegante, o
silêncio, a luz baixa” e escolheu interpretar fados tradicionais porque lhe
atraiu “a possibilidade de contar histórias diferentes com uma mesma música.
(…) É preciso conhecer a base e respeitá-la, sabendo contudo que em termos
criativos há um mundo de coisas que podem ser feitas.” (“Notícias Magazine”, 19
de Outubro de 2008).
A sua aprendizagem e estudo do Fado são manifestas
no respeito e admiração por outras fadistas, patentes, por exemplo, na
homenagem que faz a Maria José da Guia, Lucília do Carmo e Hermínia Silva,
interpretando temas destas fadistas no seu último disco. Aldina justifica: “são
três fadistas a quem dedico muito tempo a ouvir para aprender a dizer bem as
palavras, a dividir bem as frases, a saborear o ritmo e o balanço dos fados… a
desvendar as melodias nas suas subtilezas… porque me dão força para avançar no
meu caminho, enquanto fadista” (“Diário digital”; 25 de Junho de 2008).
Na Sociedade Portuguesa de
Autores estão registados mais de 70 poemas da sua autoria. Para além dos que a
própria interpreta nos seus discos, outros fadistas gravaram letras de sua
autoria, como é o caso de Camané (À Mercê de uma Saudade, Fecho os Olhos
p’ra Dar, Dor repartida, Por um Acaso, Memórias de um Chapéu, ou Fado
da Vendedeira; Joana Amendoeira (Se o Fado não Tem Idade, Acordo Agora,
Feitiço dos Temores; Só Deus Sabe, Estrelas Sem Sentido ou Na Mesma Rua); António Zambujo (A Nossa Contradição); Pedro Moutinho (O medo de Acordar e “Sem Sentir Não Sei Viver) ou Mariza (Malmequer).
Em Setembro de 2009, estreia o documentário Aldina Duarte - Princesa Prometida,
realizado por Manuel Mozos a partir de uma ideia original de Maria João Seixas.
Este documentário foi apresentado e premiado em diversos festivais de cinema
nacionais e internacionais.
O disco Conto de Fados
é editado em 2011. Neste trabalho, Aldina Duarte canta letras originais, de
vários autores, escritas a partir de obras literárias, portuguesas e estrangeiras
adaptadas à métrica e à rima da estrutura poética das melodias do Fado
Tradicional. Destaca-se a participação de figuras como Manuela de Freitas, Maria
do Rosário Pedreira, José Mário Branco e José Luis Gordo.
Romance(s) foi editado em 2015. Trata-se de um álbum duplo que incorpora um romance, escrito em verso por Maria do Rosário Pedreira, para as melodias do fado tradicional e uma banda sonora para a mesma história criada pelo produtor musical Pedro Gonçalves (Dead Combo), tendo sido considerado pela crítica nacional como o melhor disco do ano e merecido especial destaque por parte da revista Songlines, referência mundial no campo da imprensa musical especializada.
O seu mais recente trabalho de estúdio - Quando se Ama Loucamente - lançado em 2017, pela Sony Music, é um tributo à escritora Maria Gabriela Llansol. Neste disco, 10 das 12 letras são da autoria de Aldina Duarte, sendo os outros dois poemas assinados por Manuel Cruz e por Maria do Rosário Pedreira. À semelhança do que sucedeu no disco anterior, a produção ficou a cargo de Pedro Gonçalves.
Aldina Duarte é autora de diversos projetos de difusão do
Fado, entre eles o ciclo de conferências-debates A Cantar e a Contar, realizado no Centro Cultural de Belém, ou as
oficinas Fado para Todos, promovidas pelo
Museu do Fado, e a série de entrevistas Fados
e Tudo, em exibição online na página do Museu do Fado, tendo este último
projeto dado origem a um ciclo de espetáculos no Teatro Municipal de São Luiz,
sob a sua coordenação.
Selecção de fontes de informação:
“Diário Digital”, 25 de Junho de 2008;
“Notícias Magazine”, 19 de Outubro de 2008.
Carita, Alexandra e Jorge
Simão (2006), “Fados Nossos”, Lisboa, Aletheia Editores;
Hapern, Manuel (2004), “O
Futuro da Saudade. O Novo Fado e os Novos Fadistas”, Lisboa, Dom Quixote.
Última actualização: Abril/2018