Carlos Paredes nasce em
Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925. Filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo
Paredes e sobrinho-neto de Manuel
Rodrigues Paredes, é herdeiro de uma vasta tradição familiar
onde a guitarra esteve sempre presente.
Com o pai Carlos Paredes
aprendeu as primeiras posições de mão na guitarra e, por brincadeira, começou
com cerca de 9 anos a acompanhar o pai. Mais tarde, já com 14 anos,
apresenta-se em parceria com Artur Paredes num programa semanal, da autoria
deste, na Emissora nacional.
Por volta de 1934 a família instala-se em Lisboa. Carlos
Paredes aprende a ler e conclui a instrução primária no
Jardim-escola João de Deus e, depois, frequenta o Liceu Passos Manuel. Será
nesta altura que irá adquirir a sua formação musical, tendo aulas de violino e
piano. Faz o exame de admissão ao Curso industrial do Instituto Superior
Técnico, em 1943, mas frequenta apenas o primeiro ano.
No ano de 1949 Carlos
Paredes torna-se funcionário administrativo do Estado, trabalhando durante
muitos anos no arquivo de radiografias do Hospital de S. José, até se reformar
a 1 de Novembro de 1986.
Carlos Paredes casou por
duas vezes, a primeira com Ana Maria Napoleão Franco Paredes, em 1960, e a
segunda com Cecília de Melo.
Carlos Paredes nunca
rejeitou a influência que recebeu, tanto da música popular portuguesa como do
próprio fado de Coimbra. A renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra
portuguesa que fez, resultou duma geração de 60 revitalizada por novos
conceitos sócio-culturais, onde floresciam as vozes de José Afonso, Adriano Correia
de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino, bem como a poesia de Manuel
Alegre, a guitarra de António Portugal e as violas de Rui Pato e Luis Filipe,
em suma, toda uma geração coimbrã que, preservando a riqueza etnomusical que a
antecedia, revolucionou a guitarra por dentro e cantou valores que a
projectariam inevitavelmente no futuro.
Desse gosto pela aventura
nasceu uma vasta obra musical que, passando pelo Teatro, pelo Bailado e pelo
Cinema, faz de Carlos Paredes um dos mais completos compositores /
instrumentistas que a guitarra portuguesa conheceu, apesar de nunca ter optado
pela profissionalização.
A sua primeira aventura discográfica em nome próprio, o EP "Carlos
Paredes", data de 1962. Dois anos antes, em 1960, tinha composto a música da banda sonora
da curta-metragem "Rendas de Metais Preciosos" realizada por Cândido
Costa Pinto. Na execução desta peça foi acompanhado por Fernando Alvim,
começando uma parceria que se prolongaria por mais de 20 anos.
A sua ligação ao cinema não
se ficou por aqui e para além da música feita para "Os Verdes Anos"
(1962), que se tornou um dos seus ex-libris, e "Mudar de Vida"
(1966), do cineasta Paulo Rocha, ou de "Fado Corrido" (1964),
realizado por Jorge Brum do Canto, regista-se a participação do artista ou da
sua música nas curtas-metragens: "P.X.O" (1962), de Pierre Kast e
Jacques Valcroze; "Crónica do Esforço Perdido" (1966), de António Macedo; "À
Cidade" (1968) e "The Columbus Route (1969), de José Fonseca e Costa;
"Tráfego e Estiva" (1968), de Manuel Guimarães; "Hello
Jim!" (1970), de Augusto Cabrita; e "As Pinturas do Meu Irmão
Júlio" (1965), de Manoel de Oliveira, entre outras.
No teatro destacam-se as
colaborações com José
Cardoso Pires, na histórica encenação de Fernando Gusmão para
o Teatro Moderno de Lisboa, em 1964; com Carlos Avilez nas "Bodas de
Sangue", espectáculo do CITAC; e em "A Casa de Bernarda Alba" de
Garcia Lorca, pelo Teatro Experimental de Cascais.
O guitarrista continua a
compor músicas para teatro e cinema, até que no ano de 1971, sai aquela que é
unanimemente considerada a sua obra-prima, o disco "Movimento
Perpétuo", que inclui temas magníficos como "António
Marinheiro", "Mudar de Vida" e o próprio tema que lhe dá o
título.
Entre 1971-1977, com o
Grupo de Teatro de Campolide, fez a música para "O Avançado Centro Morreu
ao Amanhecer" de Agustin Cuzzani, e escolheu a banda sonora dos
espectáculos seguintes do grupo.
A nível de Bailado, Vasco
Wallenkamp criou em 1982 "Danças
para Uma Guitarra", com música de Paredes.
Após o 25 de Abril de 1974,
Carlos Paredes faz parte da banda sonora da Revolução: as primeiras eleições
livres (para a Assembleia Constituinte) são anunciadas diariamente na TV com
música de Paredes. No ano das eleições (1975), o guitarrista edita um LP em que
toca guitarra, sendo acompanhado por Manuel Alegre (que declama poemas de sua
autoria). Este disco intitula-se "É preciso um País".
Carlos Paredes começa a
frequentar alguns dos grandes palcos por essa europa fora e, sem o
consentimento da sua editora é lançado na então RDA um LP intitulado"O
Oiro e o Trigo" (de 1980), que reúne material inédito gravado em 73 e 75.
Nesse país já tinha sido lançada uma compilação do mestre intitulada
"Meister der Portugiesischen Guitarre", em 1977.
A nova editora de Paredes,
após a ruptura com a Valentim de Carvalho, lança em 1983, um álbum gravado ao
vivo em Frankfurt, que inclui temas inéditos.
No ano seguinte, em dueto
com António Vitorino de Almeida, que toca piano, é editado o disco
"Invenções Livres" e, em 1988 a sua nova editora (Polygram) inunda os
escaparates das discotecas com o LP "Espelho de Sons", o qual entra
directamente para o 3º lugar do Top Nacional de vendas de discos.
O seu próximo disco é um
dueto com o contrabaixista de Jazz Charlie Haden ("Dialogues"), a que
se seguirá uma participação especial no disco ao vivo dos Madredeus, gravado em
Lisboa no Coliseu dos Recreios.
O seu último disco,
"Na Corrente" é lançado em 1996, quando o genial guitarrista já está
impedido pela doença de participar em espectáculos e de gravar discos. Esta
gravação reúne diverso material inédito.
O guitarrista cresceu num
ambiente de discreta resistência e contestação política ao regime salazarista
pelo que, em 1958, aderiu ao então clandestino Partido Comunista Português. Na
manhã de 26 de Setembro desse mesmo ano foi preso pela PIDE no seu local de
trabalho, permaneceu detido por 18 meses e depois de sair em liberdade foi
suspenso do Hospital de S. José, trabalhando durante alguns anos como delegado
de propaganda médica.
Curiosamente, apesar da
perseguição política, Carlos Paredes foi por diversas vezes convidado a
integrar delegações estatais, actuando, por exemplo, no Festival de Varadero em
Cuba, em 1967, na Exposição Mundial de Osaka, em 1970, ou na Opera de Sidney na
Austrália.
A seguir à revolução de 25
de Abril de 1974, Carlos Paredes participou em inúmeras iniciativas realizadas
pelo Partido Comunista Português, particularmente em espectáculos promovidos
não só em Portugal como em vários países da Europa de Leste.
A última actuação em
público de Carlos Paredes foi em Outubro de 1993, na Aula Magna da Reitoria da
Universidade de Lisboa, acompanhado por Luisa Amaro.
Em Dezembro de 1993 foi-lhe
diagnosticado um grave problema de saúde que o impossibilitava de tocar
guitarra e que o manteve afastado da vida activa até à data do seu falecimento,
em 2004.
A sua obra fez escola e
assume, na cultura musical portuguesa, um valor incalculável. Entre Junho e
Setembro de 2000, o Museu do fado deu a conhecer o percurso biográfico e
profissional de Carlos Paredes, através de uma exposição temporária de título
"Estar com Paredes".
Prémios e Condecorações:
1961 - Prémio da Casa da Imprensa, como Solista
1981 - Prémio da Casa da Imprensa, para Música
Ligeira e Prémio Consagração de Carreira
1984 - Troféu Nova Gente, Troféu Prestígio do
Jornal Sete e Prémio Bordalo da Casa da Imprensa
1987 - Prémio Antena Um
1988 - Prémio Antena Um
1992 - Ordem de Comendador de Santiago e Espada
oferecida pelo Senhor Presidente da República a 10 de Junho.
Discografia:
1957 - "Carlos Paredes" - EP, Alvorada;
1962 - "Verdes Anos" - EP, Alvorada;
1967 - "Guitarra Portuguesa - LP Columbia;
1968 - "Porto Santo" - EP Columbia,
1968 - "Divertimento" - EP Columbia;
1968 - "Variações em Ré Menor" - EP
Columbia;
1971 - "Movimento Perpétuo" - LP
Columbia;
1972 - "Movimento Perpétuo" - Single
Columbia;
1972 - "Mudar de Vida" - Single Columbia;
1972 - "António Marinheiro" - Single
Columbia;
1972 - "Balada de Coimbra" - Single
Columbia;
1977 - "Carlos Paredes-Meister der
portugiesischen Gitarre-LP Amiga,RDA;
1983 - "Concerto em Frankfurt" - LP e CD
Philips;
1986 - "Invenções Livres" - LP Philips,
com António Victorino d'Almeida;
1987 - "Espelho de Sons" - LP e CD
Philips;
1991 - "Dialog" - LP e CD Philips;
1996 - "Na Corrente" - disco que reúne
material inédito.
Texto elaborado com base no catálogo da exposição
"Estar com Paredes", CML/EBAHL, 2000.
Última actualização:
Fevereiro/2008